quinta-feira, março 31, 2005

A televisão que temos

Já por várias vezes ouvi comentários em tom de reprimenda dizer-me que só vê a televisão que temos quem quer.
Todavia, com os diabos, concedam-me esses críticos o direito a ver as notícias do dia, na esperança de que elas me contem os factos decorridos no dia a dia com alguma da sua relativa verdade.
E aí vou eu fazendo zapping pelos canais nacionais até que resovi fixar-me num deles.
Notícias iguais: de desgraças, de assaltos por esticão a velhos reformados, descoberta edes de tráfico de droga..., e depois os silêncio sobre os problemas políticos por parte do novo governo empossado após a sua maioritária vitória eleitoral.
Será que este é um silêncio que significa prudência nas novas directrizes, um silêncio de bom agoiro? Penso que todos desejamos que seja
Depois, a esperança gorada de ver tratados outros assuntos segundo os princípios de um jornalismo a sério.
Acredite-se ou não, em lugar de continuarmos a escutar noticias, àquela hora, momento a que ainda crianças acompanham os pais, regressados de mais um duro dia de labuta e portanto em momentos de desejada harmonia familiar, na refeição em conjunto, talvez em muitos casos a única oportunidade que toda a família tem de se reunir, eis senão quando, os energumenos responsáveis editoriais pelo telejornal dessa estação, uma das que ninguém controla (para o patronato da qual só o interesse fiduciário que resulta de elevadas audiências interessa), passou, dizia eu, no resto do tempo que sobrou até ao final desse programa uma extensa e minuciosa reportagem sobre sex-shops, com grotescos comentários de empregadecas brasileiras explicando a diversidade de utilidades de abjectos artefactos de sexo para mentalidades doentes e pervertidas, publicidade cuidada a locais públicos de masturbação voyeirista em cabinas onde filmes pornográficos certamente do mais escabrosamente imaginável, dando o funcionário das ditas cabinas em causa também, no momento de ser entrevistado, minuciosa explicação da utilidade do papel higiénico existente nessas cabinas como instrumento de limpeza dos produtos ejaculados nessa práticas onanísticas e muitas outras desvergonhas... , tudo isto, repito, ocupando a maioritária fatia desse tele jornal, onde expressamente se vulgarizou e vendeu sexo, tornado acto da mais reles ignominia.
Não sou um puritano dado a pudores idiotas! Bem pelo contrário! É bom que isto fique devidamente esclarecido. Sou sim um liberal respeitador dos valores universais, mas há coisas que ultrapassam limites!Reeitero o maior respeito por tudo que concerne à felicidade humana, mas não posso aceitar que valores que são respeitáveis, entre os quais destaco o amor, a amizade a solidarieade, a liberdade, sejam vilipendiados e remetidos para planos esconsos e à tona só sobrenade a merda, nogeira, a bestialidade, o mau gosto a deseducação, o dinheiro fácil, enfim, o abjecto..., tudo isto costas com costas com uma falsa ideia de liberdade.
Para actos destes, uma censura e responsabilização ríspida dos prevaricadores. Já!
É este o desbafo de um cidadão desiludido das esperanças que nasceram naquela bela aurora que despontou a 25 de Abril de 1974.
Fim ao negócio gangsterista televisivo!

sábado, março 26, 2005

Lembranças de Páscoas passadas

Um povo católico como o nosso, costuma dizer que Deus escreve direito por linhas tortas. Em meu entender, homem assumidamente agnóstico, este aforismo resulta tão somente de uma sabedoria secular, que nada tem a ver com religiosidade.
É sabedoria e basta!
Outros povos, de outros credos, teem-na da mesma forma, baseada em outras tradições e incluida de forma profundamente íntrínseca na diversidade das suas culturas.
Vem esta reflexão a propósito de lembranças de cheiros, sabores, cores, ventos, bonanças , tempestades, horizontes , de pores de sol e de tantas tantas outras emoções dos lugares da minha origem que seria impossível rememorar.
Para o escrita e pinturas, tomemos como exemplo o Natal que é mais momento de angustia do que de alegrias e as poucas que lhe ocorrem são a consequência do amor que dedica à família.
E de angustias, porque o Natal não é todos so dias como se ouve dizer em frases esteriotipadas, por essa ocasião, mas sim, porque nessa época continuam a morrer de fome e de guerras, milhões de crianças, de mulheres e homens, em nome de qualquer coisa ou ideário, que a maioria das vezes nenhum significado comporta, senão a defesa de obscuros e malévolos interesses de poderosoas e indomáveis forças organizadas.
De facto, constato que o aforismo atrás citado encerra grande verdade, a verdade de uma autêntica cultura popular.
Mesmo sendo o escrita e pinturas desprendido de saudosismos sentimenmtalóides bafientos, tem contudo consciência de que há algo que o liga a esse microcosmo cultural e de que não consegue libertara sua recordação de: cheiros e sabores das Páscoas passadas nas suas longinquas terras do nordeste, tudo materializado no simples prazer de comer uma simples fatia do magnífico folar, que alí é tradição de muitos anos, saborear-se por esta altura.
Foi incrivelmenete por linhas travessas que um desse magnificos manjares lhe veio parar à mão, fruto do cruzament de duas amizades e por fim da generosidade de um talentoso poeta do seu saudos nordeste, que compreendendo-me, talvez também como eu não consiga prescindir desta forma afectuosa de viver a Páscoa, desse simbólico e simples facto de mastigar tão delicioso pão salgado de carnes, só de nós conhecidas e por nós tão especialmente apreciadas.
Há muita gente, cujos credos não discuto mas respeito, que na chamada Sexta Feira Santa não comem carne, sabendo de antemão que se pagarem bula ao padre mais próximo o poderão fazer.
Eu cá por mim deliciei-me nesse dia com uma grandiosa fatia do meu tão apreciado folar, sem ter medo das chamas do inferno.
Se eu não fosse lá dos cimos de Trás-Os-Montes, mas beirão dir-lhe ia: Bem haja meu amigo por ter tornada tão feliz esta minha Páscoa.

terça-feira, março 22, 2005

Atenção srs. Ministros

Ainda a propósito do revoltante crime ocorrido tão recentemente na Amadora de qu resultou a morte de dois jóvens guardas da PSP e após a captura do abjecto animal, verdadero monstro, que o provocou, só espero, como é costumeiro, que não apareçam de imediato os habituais demagogos apoiantes de uma "certa corrente de defesa dos direitos humanos" e a click dos sempre presentes imbecis sócio-psicólogos de plástico ( são sempre os mesmos), a defender o energúmeno com os argumentos usuais. de que é um pobre coitadinho, um desenraízado social, coisa e tal ... e outras landonas e baboseiras.
Penso que qualquer pessoa bem formada, respeitadora dos reais e verdadeiros direitos humanos se indignaria, se acaso soubesse que tratamentos desumanos eram inflingidos aos detidos nas cadeias portuguesas.
É, no entanto sabido, que bem pelo contrário, a grande maioria dos biltres que se amontoam nesses estabelecimentos, ali permanecem no bem bom, não sofrendo o merecido castigo pelos seus actos anti-sociais, mas antes gozando de regalias de toda a espécie (TV a cores na cela, uso de telémoveis, não obrigação a um trabalho diário em proveito da comunidade, possibilidade de fornecimemto de drogas para uso própria e para venda, etc...) , que tantas centenas de milhares de pobres deste desgraçaodo País nunca almejaram conseguir, merecendo-as seguramente até tão só pela pobreza com que a vida sempre marcou a maioria deles.
Como dedicado e rigoroso cumpridor dos meus deveres cívicos venho agora deixar ao Sr. Ministro do Interior, do novo e esperançoso Governo, (doutor não sei quantos, também não importa , porque o que não faltam neste País são doutores), que chegou a hora de, especialmenete o Senhor, mudar de rumo e tomar com coragem a decisãode respeitar as forças da ordem, fornecendo-lhes as condições que em quaquer país civilizado são concedidas a essas corporações. Espero que tenha mudado como homem e como político, para melhor, entenda-se, porque ainda me recordo de que não era flôr que se cheirasse, pelo menos na minha modesta opinião. Recordo-me bem bem sua frenética tentência em defender falsos direitos de certas espécies de homens e de o ver, na ponte 25 de Abril, durante o primeiro businão, misturado com arruaçeiros, que por nada de justificável lutavam, agitando uma populaça,totalmente inconsciente das razões do borborinho ( nem tal consciência era necesária; o essencial era conseguir deitar abaixo, o que bem conseguiram) , contra os poderes nessa altura legítimamenete eleitos .
Ao sr. ministro da Justiço é escusado lembrar que chegou também o momento de alterar o estado catastrófico em que as coisas da Justiça se encontram e exigir dessa camarilha de velhos legisladores caspozos, tantos deles patenteando indefectíveis tiques de ex-seminaristas, que é tempo de tomaram tudo isto muito a sério, de reverem o obsoleto código penal que temos se disse forem capazes?! e entraraem em sintonia com a imensa mole dos seus concidadãos que sentem na insegurança um dos grandes males destes tempos conturbados em que vivemos.
Basta Srs. Ministros!
Nâo é só estar no poder e fazer discursos de refinada retórica( alguns tão ôcos que espremidos lembram a teoria do flogisto: evaporam-se, são fluídinos, teem peso negativo) .
Ah! O poder! Esse, é necessário usá-lo com rigor, bom senso e inteligência para o bem de toda a comunidade.
É este outro desabafo dos muitos que estou certo me não sufocam só a mim, mas a milhões de decentes portugueses.

domingo, março 20, 2005

Este triste país

Depois de uma tarde agradável em que, com pessoas muito interessantes, á volta de um copo conversámos de tudo um pouco, vejo-me logo a seguir a um jantar frugal compatível com a minha idade um tanto avança já, confrontado com um telejornal pejado de idiotices, de comentadores que tudo sabem, verdadeiros messias da verdade total, de violências, de atropelos à língua Portuguesa por parte dos agora Srs. Drs. pivots jornalistas etc.... e tal e tal, como diz o povoléu, mas isso nem sequer me espantou por já ser o corriqueiro de todos os dias deste triste País em que vivemos.
De súbito aparece-me na frente, ocupando todo o cinescópio do meu velho televisor, uma mulher vulgar, uma tal não sei quantos, também não interessa, porque afinal, falando de forma mais ou menos esganiçada ela é, infelizmente, réplica de muitas outras, arvorada de um pacovismo incontestável e provinciano cuja parolice não ultrapassa seguramente a linha fronteira de Badajoz, saloismo do qual, pela sua incamuflável estupidez não parece dar-se conta.Uma mulher detestável, claramente vendida ou ao preço do dinheiro fácil ou verdadeiramente estúpida( só pode ser por uma destas razões).
Com tiques de starlet, abrindo levemente as asas numa frequência irregular, como uma perua depenada fugindo à decapitação, talvez para ventilar umas axilas humedecidas tão feiamente biológicas como as de qualquer outro mortal, tornadas inodoras por um desodorizante da moda ( devem ter-lhe dito que assim é que é a pose de uma estrela ), apresentava, numa berraria histérica, estridente e enervante, as estrelas do que seria mais um grande sucesso televisivo.
Embrulhada em vestes de cetins de cor verde-alface-vomitado, a megera, naquele tom de voz estridente fortemente impotentogénico, ( entenda-se, segundo conceituados sexologistas, que mesmo para um verdadeiro macho, aquela tecitura deve tirar a ponta ao mais garanhão desde a própria Europa, até à Oceania), começa então a indicar publicamente com um gáudio insofismávelmente imbecil quem seriam as gradas figuras, que dentro de breves momentos entrariam no segundo programa da série dita "Quinta das Celebridades", entre as quais se destacava a primeira delas: uma velha tonta, totalmente recauchutada pela cirurgia reconstrutiva, enfim, uma figura tristemente plastificada, de quem eu, pobre mortal fugiria a sete pés se com ela fosse confrontada numa qualquer ante-câmara de amor!
E pergunto-me como é possível que os poderes instituidos, que deveriam estar conscientes do analfabetismo, da iletracia e da imensa mancha de pobreza, em alguns casos chegando a tanger a verdadeira miséria, que grassa sem lei nem ordem por esse pobre país fora e que tanta necessidade tem de ser educado para seu próprio beneficio futuro, deixar continuar com este ganguesterismo televisivo de deseducação nacional, engordando os bolsos dos patrões desses importantes meios de comunicação de forma a atingirem as grandes massas, transtornando-lhes as pobres cabeças, fazendo delas o produto amorfo, dependente sempre de um paizinho, talvez tão miserável como o Salazarismo conseguiu fazer.
Em suma : continuar a dar-lhes o alimento da ignorância absoluta, da dependência paternalista, fátima, futebol e fado, tudo acrescido da impunidade de que por aí tantos gozam, como se todos tivessemos de viver num país de verdadeiras traições ao dia em que julgávamos Portugal livre para sempre deste géreno inestinguível de parasitas enfatuados.
Basta de venderem merda e deseducação.
Tenham respeito por quem trabalha, por quem sonha com um país mais justo, próspero e solidário. Tena-se a coragem de aceitar, não uma censura no sentido fascizante, mas ponha-se em tudo isto um minímo de ordem e respeito por uma cultura que nos é tão necessária e da qual depende em grande parte, senão na maior toda a riqueza de um povo.
Este desbafo surge no dia em que dois jovens agentes da ordem foram abatidos pela sanha de um assassino de uma indescritível crueldade.
São perigosos os dias que se avizinham se não tomarmos as precauções que de forma clara se exigem.

quarta-feira, março 16, 2005

os amigos

Como vem sendo hábito, eu e o Faz Tudo, quase como regra ou ritual religioso, excluidas as religiões. num rito agnóstico e digo agnóstico, porque penso seriamente que ambos o somos de verdade, sem receios de infernos ou de outras patranhas com que em garotos nos tentaram impingir medos e terrores: infernos, limbos e outras sevícias dogmáticas, tudo devidamente acompanhado pela consequente obrigatoriedade de regras de um comportamento tipicamente catolicozinho vamos nós até à catedral, aos fins de tarde, depois de mais uma corrida nos segundos da vida e cada um deles é um segundo a menos que vivemos, onde aproveitamos para tomar uma mijoca - entenda-se por esta designação uma beberragem misto de cerveja e gazosa barata -, que a mim, pessoalmente me dessedenta tão agradavelmente como se de um bom espumante se tratasse.
Por certo que estes prazeres não têm a ver com a qualidade do produto que bebemos, mas tão somente, porque eles são deglutidos num companhia carregada de companheirismo e compreensão mútuos, que não gostaria nunca de ver desvanecer-se.
Muio embora nem sempre estejamos de acordo, sobretudo na visão política de como olhamos o envelhecer, de que connosco faz este nosso velho país de tantos séculos, numa coisa somos como um instrumento tocando em uníssono: em pensar que o Lopes, esse exactamente em que está a pensar, ou é completamente passado dos cornos e imbecíl ou nos toma a todos por idiotas, o que a partir de agora jamais conseguirá, quando, depois de feitas as continhas resolveu voltar à presidência da CML .
É preciso ter lata ou não ter aonde cair morto!
Pois não!Chamem-lhe parvo!
Pelo menos, nesta atitude demonstra que não tem geiteira só para a asneira.
Mas esperem pela pancada e logo vão ver o chorrilho de merdas que em breve aí virão.
Tenho pena de que o moscardo laranja ainda não tenha idade para nos acompanhar numa mijoca

sexta-feira, março 11, 2005

A inspecçao

Naquele tempo não havia ainda televisão a cores, nem sequer televisão (felizmente, dizem alguns, não se sabendo se estarão a falar a sério).
A rádio sim, essa existia, mas até ela tinha dificuldade em chegar claramente audível àquele lugar onde o diabo tinha perdido as calças. Era a tristemente e famosa defunta Emissora Nacional, grande educadora ao serviço do então regímen vigente e o Rádio Clube Português, que naquele lugar recôndito do nordeste deste tristonho país (que ainda hoje, bem vistas as coisas, se formos capazes de parar para reflectir com um mínimo de seriedade rapidamente nos daremos conta de que infelizmente ainda não deixou de ser, contudo de um uma forma mais sub-reptícia, mais exploradora, até mais escravizante), bem se ouviam, ainda que a maioria das vezes tão roufenhos, que não se compreendia bem em que língua emitiam, talvez em zumzumronronez, uiiiiizzzzzz!
A primeira dava sempre ao fim da tarde, pelas seis e meia, um tenebroso programa de meia hora de música de dança, e uma vez por semana, aos sábados, uma historieta para crianças
Os adolescentes e os homens das consideradas famílias susceptíveis de frequentar o clube chique da cidade, de idades consideradas já respeitáveis, mas exibindo ainda com argumentos de notória virilidade: funcionários públicos de bigode bem tratado e lustroso, militares do regimento, notários, advogados e até o enfatuado juiz da comarca de cabeça besuntada por espessa camada de brilhantina, qual dançarin0 de tango argentino (o médico devia ser a excepção), ou ficando no seu próprio lar ou saltitando entre as casas uns dos outros, ouviam deleitados aquela música rançosa, seguindo-se de imediato a dança de slows-foxes e foxe-trotes, corpos untuosamente colados os seus, logo que havia oportunidade de conseguir levar por diante essa pequena imoralidadezinha a esconsas dos olhares puritanos das anfitriãs, decalcando os seus romances imaginário-provincianos das comédias americanas do Fred Astaire e do Bing Crosby, vivendo intensamente esses momentos como se eles próprios estivessem impressos numa película cinematográfica correndo a vinte e quatro imagens por segundo, imoralidades essas, que na próxima visita que certamente fariam ao tirano padreco da paróquia, que bem à sucapa também segundo constava se não governava mal com as devotas beatonas que lhe não largavam a ensebada e pestilenta sotaina, em breve seriam perdoadas numa divina confissão de arrojada hipocrisia e de grande aplauso castrense, decalcando os seus romances provincianos, das comédias americanas do Fred Astaire e do Bing Crosby, vivendo intensamente esses momentos como se eles próprios estivessem impressos numa película cinematográfica correndo a vinte e quatro imagens por segundo.
A garotada pequena, com ele era nessa altura, não perdia o programa da Maria Madalena Patacho, anunciado pelo habitual Trá-lá-lá-, trá-lá-lá, trá -lá liro- liro-lá...etc.
A rapaziada foi crescendo e todos os da sua geração se foram tornando garbosos mancebos, que depois da inspecção militar se tornavam “orgulhosamente valorosos soldados da Nação, aparentemente muito felizes por esse facto, numa manifestação clara e estúpida de um machismo idiota e bolorento, bem à maneira salazarista de fazer crescer a juventude sob o sagrado lema de Deus Pátria e Família.
Ele, como os demais, não escaparia à regra e o seu dia estava prestes a chegar.
Havia seis meses que deixara aquela parvónia e fora estudar Medicina para a capital.
Naquela segunda feira de 1955 recebeu uma carta de seu pai, contendo duas belas notas de cem escudos, para custear a viajem de regresso à sua cidadezinha lá para os confins do diabo, informando-o de que teria de se apresentar, impreterivelmente na cidade, na quinta-feira, para a inspecção militar.
Ao receber aquela notícia ficou num estado misto de uma alegria estúpida e receio, porque se por um lado se recordava que eram sempre os jovens oficiais milicianos, os farsolas que na sua parvónia se passeavam ao lado das raparigas mais abonecadas e cheirosas do burgo, o que para si se adivinhava muito aliciante – usavam colónia Tabú e Madeiras do Oriente, vindas de contrabando de Alcañices ou de Zamora)-,e, receoso pelo que tivesse de passar, com obrigações de disciplina, obediência cega e outras regras tanto ou mais estúpidas que aquelas a que sempre ouvira dizer que a tropa obrigaria, coisa que sempre detestara, por no convívio familiar sempre a elas ter sido forçado, numa tentativa de educação militarista, por parte dos homens fortes família, seu pai e seus avós, oficiais superiores de carreira.
De todo o modo não tinha alternativa.
Também,sem o querer reconhecer, o receio estúpido de não ficar apurado para o serviço, angustiava-o, porque na terra quem não servia para tropa era considerado menos homem, uma espécie do não serve para nada.
Partiu no rápido das oito da manhã daquela triste quinta ferira feira, no rápido das oito da manhã e chegou por volta das nove e trinta, à sua cidade triste e fria.
Chovia uma morrinha fria de molhar palermas.
Saiu a estação e percorrer a avenida recta até a sua casa. Depois de três mocadas bem soadas com a mãozinha de ferro no batente polido de metal amarelo da porta, Alice, a criada, depois de espreitar pela janela entreaberta de guilhotina da sala de visitas e certificar-se de que era ele que chegara, veio abrir e pegando-lhe na maleta de viagem disse peremptória:
- menino, não vale a pena subir. Sua mãe manda dizer que vá imediatamente ao café central, porque seu pai está lá com ela e com um senhor coronel médico à sua espera para a inspecção.
- Mas como? A esta hora e no café? Inspeccionado no café?!
- Sim, é o recado que tenho!. exclamou Alice secamente.
Conformado desceu a rua em passo apressado, cruzou a praça e entrou no café cuja vitrina descrevia um arco convexo sobre a praça.
Ao fundo, à direita lá estavam eles: seu pai e sua mãe, o gordo coronel acompanhado de uma senhora de aspecto autoritário, com um penteado a lembrar o estilo refugiada – veio a saber que a matrona era sua mulher e o acompanhava nesse tipo de saídas -, e um outro oficial, talvez tenente, mais novo, e de galões a rebrilhar provavelmente por uma recente promoção
Seu pai ao vê-lo, voltando-se para o coronel barrigudo exclamou:
- Artur, cá está o meu rapaz.
- O quê, este lingrinhas ? Oh Eduardo! Podias-me ter dito, que ele era assim franzino, e não teria valido a pena obrigá-lo a vir de Lisboa! Estás livre, está decidido, não serves para a tropa Senta-te aqui connosco e toma qualquer coisa - repontou com um gargalhar alarve e irónico o gorducho.
Amanha dão-se os dados ao sargento e tudo fica regularizado.


E foi assim que muitos anos passados com o pagamento da taxa militar devidamente regularizada, se viu confrontado com aquele miserável papel verde, metido por baixo da porta de entrada do seu pequeno apartamento, em que era notificado para se apresentar imediatamente na esquadra de polícia mais próxima, porque iria ser reeinspecionado.
A guerra colonial não poupava os médicos, mesmo que fossem fisicamente deficientes. Eles mandavam e era calar a boca e obedecer.
Ela raivosa repontou:
- Vamos fugir!
- Para onde, com que dinheiro e para fazer o quê?

dificuldade em encontrar a via de comentário

Meu caro:
Por muito que me tenha esforçado nesta minha primeira tentativa de incursão de comentar um dos teus mais acertados rasgos criticos (refiro-me naturalmente á vernissage do João Ribeiro na galeria do nosso cefalóescariótico obeso), não o consegui, como de resto já deves ter adivinhado pela via transversa porque o faço agora.
De toda a forma, queria dizer-te que estou quasi completamente de acordo com a tua opinião sobre esta expressão pictórica tão pessoal, tão do João, e, até por isso, e considerando a subjectividade de que esta espressão artisitica se carrega na sua apreciação, num sentido mais lato, mais universalista, mas nem por isso mais atenta e séria, mais merecida é desde o momento em que sem nos darmos conta nos leva para níveis de qpreciação muito consonantes.
E depois desta me vou, porque a pega da minha insónia em vez de me arrastar para a frente do meu teclado e me obrigar a começar a pensar na porra do meu próximo livro, me forçou como a um petiz influenciavél a papar mais uma merda de um péssimo policial, desta vez na originário das Américas, mas do lado da ilha de sua Majestade Britânica, porque lá também há muitos cowboys.
Até depois.