VidasNo banco de uma espécie de jardim mal amanhado, em frente ao barracão térreo onde decorrem consultas de especialidade de um certo hospital, esperava que o meu amigo me desse um sinal para por fim a angustia que me assaltava: o sim ou não da perspectiva de um tumor maligno da próstata.Um homem, quebrado pelos anos, já não era o gigante que se adivinhava ter sido. Aproximou-se e sem cerimónia sentou-se ao meu ladoEm silêncio ali permaneceu até ao momento em que me pediu o primeiro cigarro.Você também está à espera?Sim estou!, não vê?! que outra coisa poderia estar aqui a fazer, especado neste banco!Ora, podia estar à espera de alguém de família, algum amigo....Uma mulher obesa e resfolgante de calor e cansaço, aproximou-se e estendendo-lhe uma pequena garrafa plástica de água:Bebe que te faz bem. – disse olhando-me de soslaio.Não me chateies com a merda da água -.repontou o velho calmeirãoAfastou-se acabrunhada.- Sabe as mulheres são mais chatas que a verdadeira chatice e é bem preciso ter paciência para ter paciência para elas- grunhiu, enquanto me pedia outro cigarro.Depois foi o desfiar de misérias, de intervenções cirúrgicas, de tempos heróicos passados nos postos da previdência e a terrível estória do resto da sua vida:o pai, um malvado embarcadiço tinha deixado a mãe e juntara-se a uma galega que o maltratara até ao dia em que resolver fugir e fazer-se à vida.Outro e mais outro cigarro.O meu amigo aflorando finalmente à porta do barraco fez-me sinal para entrar.O homem olhando-me disse, de lágrima ao canto do olho: vá lá, vá ter com ele, que é quem me salvou a vida, talvez salve a sua também.Dê-me outro cigarro que o vou fumar à sua saúde.- Resmungou de novo à mulher que de outra vez lhe tentava fazer beber um golo de água.
posted by Jorge @