«A saída de António Costa para a Câmara de Lisboa pode ser interpretada de muitas
maneiras. Mas, se as intenções podem ser interessantes, os resultados é que contam.
Entre estes, está o facto de o candidato à autarquia se ter afastado do governo e do
partido, o que deixa Sócrates praticamente sozinho à frente de um e de outro. Único
senhor a bordo tem um mestre e uma inspiração. Com Guterres, o primeiro-ministro
aprendeu a ambição pessoal, mas, contra ele, percebeu que a indecisão pode ser fatal.
A ponto de, com zelo, se exceder: prefere decidir mal, mas rapidamente, do que adiar
para estudar. Em Cavaco, colheu o desdém pelo seu partido. Com os dois e com a sua
própria intuição autoritária, compreendeu que se pode governar sem políticos.
Onde estão os políticos socialistas? Aqueles que conhecemos, cujas ideias pesaram
alguma coisa e que são responsáveis pelo seu passado? Uns saneados, outros
afastados. Uns reformaram-se da política, outros foram encostados. Uns foram
promovidos ao céu, outros mudaram de profissão. Uns foram viajar, outros ganhar
dinheiro. Uns desapareceram sem deixar vestígios, outros estão empregados nas
empresas que dependem do Governo. Manuel Alegre resiste, mas já não conta.
Medeiros Ferreira ensina e escreve. Jaime Gama preside sem poderes. João Cravinho
emigrou. Jorge Coelho está a milhas de distância e vai dizendo, sem convicção, que o
socialismo ainda existe. António Vitorino, eterno desejado, exerce a sua profissão.
Almeida Santos justifica tudo. Freitas do Amaral reformou-se. Alberto Martins apagou-
se. Mário Soares ocupa-se da globalização. Carlos César limitou-se definitivamente
aos Açores. João Soares espera. Helena Roseta foi à sua vida independente. Os
grandes autarcas do partido estão reduzidos à insignificância. O Grupo Parlamentar
parece um jardim-escola sedado. Os sindicalistas quase não existem. O actual
pensamento dos socialistas resume-se a uma lengalenga pragmática, justificativa e
repetitiva sobre a inevitabilidade do governo e da luta contra o défice. O ideário
contemporâneo dos socialistas portugueses é mais silencioso do que a meditação
budista. Ainda por cima, Sócrates percebeu depressa que nunca o sentimento público
esteve, como hoje, tão adverso e tão farto da política e dos políticos. Sem hesitar,
apanhou a onda.
Desengane-se quem pensa que as gafes dos ministros incomodam Sócrates. Não mais
do que picadas de mosquito. As gafes entretêm a opinião, mobilizam a imprensa,
distraem a oposição e ocupam o Parlamento. Mas nada de essencial está em causa. Os
disparates de Manuel Pinho fazem rir toda a gente. As tontarias e a prestidigitação
estatística de Mário Lino são pura diversão. E não se pense que a irrelevância da
maior parte dos ministros, que nada têm a dizer para além dos seus assuntos técnicos,
perturba o primeiro-ministro. É assim que ele os quer, como se fossem directores-
gerais. Só o problema da Universidade Independente e dos seus diplomas o incomodou
realmente. Mas tratava-se, politicamente, de questão menor. Percebeu que as suas
fragilidades podiam ser expostas e que nem tudo estava sob controlo. Mas nada de
semelhante se repetirá.
O estilo de Sócrates consolida-se. Autoritário. Crispado. Despótico. Irritado. Enervado.
Detesta ser contrariado. Não admite perguntas que não estavam previstas. Pretende saber, sobre as pessoas, o que há para saber. Deseja ter tudo quanto vive sob controlo.
Tem os seus sermões preparados todos os dias. Só ele faz política, ajudado por uma
máquina poderosa de recolha de informações, de manipulação da imprensa, de
propaganda e de encenação. O verdadeiro Sócrates está presente nos novos bilhetes de
identidade, nas tentativas de Augusto Santos Silva de tutelar a imprensa livre, na
«A saída de António Costa para a Câmara de Lisboa pode ser interpretada de muitas
maneiras. Mas, se as intenções podem ser interessantes, os resultados é que contam.
Entre estes, está o facto de o candidato à autarquia se ter afastado do governo e do
partido, o que deixa Sócrates praticamente sozinho à frente de um e de outro. Único
senhor a bordo tem um mestre e uma inspiração. Com Guterres, o primeiro-ministro
aprendeu a ambição pessoal, mas, contra ele, percebeu que a indecisão pode ser fatal.
A ponto de, com zelo, se exceder: prefere decidir mal, mas rapidamente, do que adiar
para estudar. Em Cavaco, colheu o desdém pelo seu partido. Com os dois e com a sua
própria intuição autoritária, compreendeu que se pode governar sem políticos.
Onde estão os políticos socialistas? Aqueles que conhecemos, cujas ideias pesaram
alguma coisa e que são responsáveis pelo seu passado? Uns saneados, outros
afastados. Uns reformaram-se da política, outros foram encostados. Uns foram
promovidos ao céu, outros mudaram de profissão. Uns foram viajar, outros ganhar
dinheiro. Uns desapareceram sem deixar vestígios, outros estão empregados nas
empresas que dependem do Governo. Manuel Alegre resiste, mas já não conta.
Medeiros Ferreira ensina e escreve. Jaime Gama preside sem poderes. João Cravinho
emigrou. Jorge Coelho está a milhas de distância e vai dizendo, sem convicção, que o
socialismo ainda existe. António Vitorino, eterno desejado, exerce a sua profissão.
Almeida Santos justifica tudo. Freitas do Amaral reformou-se. Alberto Martins apagou-
se. Mário Soares ocupa-se da globalização. Carlos César limitou-se definitivamente
aos Açores. João Soares espera. Helena Roseta foi à sua vida independente. Os
grandes autarcas do partido estão reduzidos à insignificância. O Grupo Parlamentar
parece um jardim-escola sedado. Os sindicalistas quase não existem. O actual
pensamento dos socialistas resume-se a uma lengalenga pragmática, justificativa e
repetitiva sobre a inevitabilidade do governo e da luta contra o défice. O ideário
contemporâneo dos socialistas portugueses é mais silencioso do que a meditação
budista. Ainda por cima, Sócrates percebeu depressa que nunca o sentimento público
esteve, como hoje, tão adverso e tão farto da política e dos políticos. Sem hesitar,
apanhou a onda.
Desengane-se quem pensa que as gafes dos ministros incomodam Sócrates. Não mais
do que picadas de mosquito. As gafes entretêm a opinião, mobilizam a imprensa,
distraem a oposição e ocupam o Parlamento. Mas nada de essencial está em causa. Os
disparates de Manuel Pinho fazem rir toda a gente. As tontarias e a prestidigitação
estatística de Mário Lino são pura diversão. E não se pense que a irrelevância da
maior parte dos ministros, que nada têm a dizer para além dos seus assuntos técnicos,
perturba o primeiro-ministro. É assim que ele os quer, como se fossem directores-
gerais. Só o problema da Universidade Independente e dos seus diplomas o incomodou
realmente. Mas tratava-se, politicamente, de questão menor. Percebeu que as suas
fragilidades podiam ser expostas e que nem tudo estava sob controlo. Mas nada de
semelhante se repetirá.
Oestilo de Sócrates consolida-se. Autoritário. Crispado. Despótico. Irritado. Enervado.
Detesta ser contrariado. Não admite perguntas que não estavam previstas. Pretende
saber, sobre as pessoas, o que há para saber. Deseja ter tudo quanto vive sob controlo.
Tem os seus sermões preparados todos os dias. Só ele faz política, ajudado por uma
máquina poderosa de recolha de informações, de manipulação da imprensa, de
propaganda e de encenação. O verdadeiro Sócrates está presente nos novos bilhetes de
identidade, nas tentativas de Augusto Santos Silva de tutelar a imprensa livre, na teimosia descabelada de Mário Lino, na concentração das polícias sob seu mando e no
processo que o Ministério da Educação abriu contra um funcionário que se exprimiu
em privado. O estilo de Sócrates está vivo, por inteiro, no ambiente que se vive, feito já
de medo e apreensão. A austeridade administrativa e orçamental ameaça a
tranquilidade de cidadãos que sentem que a sua liberdade de expressão pode ser
onerosa. A imprensa sabe o que tem de pagar para aceder à informação. As empresas
conhecem as iras do Governo e fazem as contas ao que têm de fazer para ter acesso aos
fundos e às autorizações.
Sem partido que o incomode, sem ministros politicamente competentes e sem oposição
à altura, Sócrates trata de si. Rodeado de adjuntos dispostos a tudo e com a
benevolência de alguns interesses económicos, Sócrates governa. Com uma maioria
dócil, uma oposição desorientada e um rol de secretários de Estado zelosos, ocupa
eficientemente, como nunca nas últimas décadas, a Administração Pública e os cargos
dirigentes do Estado. Nomeia e saneia a bel-prazer. Há quem diga que o vamos ter
durante mais uns anos. É possível. Mas não é boa notícia. É sinal da impotência da
oposição. De incompetência da sociedade. De fraqueza das organizações. E da falta de
carinho dos portugueses pela liberdade.» [Público
António Barreto faz o retrato de Sócrates
4 comentários:
Olá, Jorge! Passo rapidamente só para te cumprimentar e perguntar se estás bem...
Voltarei um dia destes para ler as tuas últimas publicações.
Um beijinho
Ufa! Grande post!
Apareça mais vezes!
Hola Jorge: No tienes que disculparte por no dar señales de vida. Claro que el trabajo y las ocupaciones nos absorben a todos.
Yo, ahora estoy en Madrid. Estamos terminando de montar el apartamento que compramos para mi hija. Mañana espero regresar a Zamora aunque pienso venir con frecuencia a estar agusto en Madrid,disfrutar de todas sus ofertas y del sitio donde está ubicado el apartamento. Te diré que desde mis ventanas, estamos en un octavo piso, tengo de frente el Palacio Real y la Catedral de la Almudena. Anoche, el primer día que dormí, pude comprobar la vista tan fantástica con esos monumentos iluminados, que casi los podía tocar con los dedos. Por otro lado, tengo al lado un gran parque público, con mucha vegetación y con sonido de aves. Creo que hemos acertado en la compra pues tengo todo al lado y con la ventaja incluía de que en cinco minutos de autobús estoy en Ópera, al lado de la famosa Puerta del Sol.
En fin, estoy contenta y mi hija encantada. Si alguna vez vienes a Madrid dímelo y me encantará saludarte.
Sobre mi trabajo también tengo varios proyectos en marcha y todos con muy buenas perspectivas. En septiembre voy a Malasia, serán pocos días pero hay un programa de volar 10 veces pues recorreremos todas las islas.
Me alegro de encontrarte bien aunque con tu preocupación por tu país, por otra parte lógica.
Yo vengo poco a los blogs, quiero decir que no me entretengo como antes leyendo unos y otros, solamente pongo mis post por no perder la costumbre y poco más.
Recibe un fuerte abrazo y saludos a tu familia de mi parte. Y, cómo no, un besazo para Helena.
Concha
Oi
Acho graça ao que escreve mas chamar «pequeno salazar» ao PM é muito exagerado.
abraço
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