Quando em dia de aniversário, o telefone não pára de tocar: meu querido amigo do peito, desejo-te um feliz aniversário, e se está numa idade, em que a imortalidade adolescente já vai longe e nos sentimos resvalar para o inexorável normal fim, detestamos esses toques irritantes e esses votos, sem significado, porque eles nada alteram no fluir do nosso terminus biologicamente definido.
Tão só, queremos estar sós, numa solidão só nossa, numa reflexão necessária e bio-vital, mau grado a agradecida, mas não reclamada festa, a propósito de tal acontecimento realizada ( falo por mim e só por mim), bem entendido.
Há quem goste de ser festejado, como se da evocação de uma importante efémeride se tratasse.
Só que eu não, comigo,não!!!!
E eis que se instala em mim uma profunda depressão e um mau encarar de tais despropositados festejos (a propósito de quê? de envelhecer, de caminhar para o fim?!...)
Obrigado, pois, a quem nos festeja, a quem nos quer bem, mas desnecessários festejos esses, pelo odioso que tudo isso são ou representam: o inevitável, a morte pré-anunciada, a decrepitude, o fim biológico inevitável, a fealdade..., e tudo o mais que de insuportável se possa imaginar: o que é na verdade real: o inevitável: a proximidade do fim, por muito que nos seja desjado de prosperidade, de aventurança, de riqueza terrena, de bem estar,...
Hoje, foi o exemplo acabado do que digo: uma festa indesejada, combinada em segrêdo por ela, a mulher que amo e que, há décadas me suporta;que talvez quase tenha conseguiu perceber o mal que a guerra colonial me tenha feito e provocado, de forma indefectível, como uma praga, uma grave e intratável infecção, que me roubou os melhores anos da minha vida, da minha carreira, se é que a carreira, afinal, tem alguma importância ou significado que ultrapasse o que é vulgar de provinciano, de pacóvio, de portuguesissímo, dado que todos acabamos do mesmo modo, num fatal esquecimento.
Um mal estar incontido, senti, por esse festejo, afinal, só compreendido, pela gratidão de um amor que perdura ainda, o da minha companheira de décadas e das minhas raparigas e rapazes, minhas filhas, dos meus muito queridos netos, meus irmãos, um dos quais, talvez o que mais amo, o meu dulssíssimo irmão Markus, amigo fe companheiro da minha infanto-adolescência, e que, às nove em ponto desta tenebosa manha de dia onze, dia de S. Martinho das castanhas, me telefonou de Zurique, plá na longfínqua e fria Suissa, para me confortar em mais este miserável dia, antes da partida, perguntando-me, a mêdo, se ainda dormia a essa hora, tudo para me consolar, par me dar o ânimo necessário à vida, embora um convencimento do real, um anúncio de proximidade do fim que se adivinha a passos de gigante, nunca mais me possa abandoinar ou aliviar a minha mente de uma teimosia inquebrantável.
Obrigado, contudo, à mulher, à minha definitiva amiga e companheira, mulher de armas,doçura da minha vida, imprescindível dos meus dias, compreensiva para além do razoável, que depois de tantos anos, ainda tem a coragem de me festejar o meu já avançado aniversário, de suportar as minhas angustias, os meus silêncios, os meus mêdos, as minhas oscilações comportamentais de humor, quase bipolares, e, à doçura do olhar terno com que as minhas filhas e netos me olharam neste dia e, enfim, o linitivo adiccional de um copo a mais, para esquecer a minha definitiva finitude.
De todo o modo, sei que ainda há quem me tenha estima verdadeira e de mim se lembre nestes tristes dias de aniverário, que detesto, como se uma doença se tratasse, mas , Ah ! se eu pudesse, pedir-lhes-ia: que o não fizessem, que me não lembrassem, porque, para mim, ao contrário do que é normal, o dia do aniversário é mais um dos dias que mais me aproximam da realidade: do fim inevitável: da morte e da falta que um dia lhes farei.
2 comentários:
... toma juizo na corneta!
... já tens idade para agradecer estar cá, cheio de saúde, amigos e família!
... há lá melhor que ir envelhecendo, com sabedoria e prazer!
... quando a "visita" chegar, valerá a pena dizer: valeu a pena!
Xi
Qual finitude, qual inexorável! O senhor está vivo, tem uma família maravilhosa, amigos, saúde, deixe-se de tretas, o dia de aniversário foi apenas o pretexto para estarem juntos. Qual bipolar, qual depressão: tenha juízo!
Beijo
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