quinta-feira, novembro 17, 2005
MEDITAÇÃO: O PAÍS E NÓS PRÓPRIOS,TODOS NÓS
Ora aqui está alguém de que nunca gostei, por quem nunca senti a mais ligeira réstea de empatia.
Talvez porque me parece homem de pensamento sinuoso, prolixo por vezes, talvez até pedante q.b.
Mas, há sempre um mas!
Desta vez não resisti a espalhar aos quatro ventos a opinião que este senhor tão bem explicitou, num texto, quase em forma de um ensaio, sobre os males que nos afligem, dividindo culpas, atribuindo responsabilidades, etc..., falando de todos nós: portugueses.
E aqui confessando estar nestes aspectos em quase total acordo com ele, digo quase e reeitero-o, quase, aqui me responsabilizo, não por plágio do referido documento, porque estando num país livre, sou pelo livre de pensamento, deixando a quem quiser, a outros, a oportunidade de conhecer o que é público, ainda por demais publicado num jornal diário, e também por sentir ser meu dever de cidadania deixar este escrito tão importante desse referido senhor, de quem não de facto não gosto, como atrás já disse.
É também direito democrático meu fazê-lo, sem o ofender, só pelo facto singelo da clareza de repetir, que é pessoa que não aprecio. ( questão que só a mim diz respeita)
E Prado Celho reza assim e o que reza é da sua inteira responsabilidade:
A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres.
Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.
Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.
O problema está em nós. Nós como povo.
Nós como matéria-prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito.
Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.
Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame.
Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.
Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...
Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirão. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa.
E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um Messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim,
exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
E você, o que pensa?.... MEDITE!
PUBLICADO NO JORNAL: O PÚBLICO
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7 comentários:
pronto deitei-me a meditar..(eheheh)e posicionalmente deitada chego à conclusão de que estar de pé sempre é dificil....a perfeição não existe...deixa lá....eles tb se deitam....nem que seja para morrer... bjos.
O Sr. Prado Coelho, como sempre, acaba de descobrir a polvora! A guerra essa há muito existe.
Tudo o que o Sr. P.C. julga ser o primeiro a escarrapachar nas páginas de um jornal diário é uma repetição de tudo o que tem sido dito desde que o pessoal julgava estar vestido e afinal tinha apenas uma micro tanga.
Leio o Sr.P.C. muito de longe a longe, no público, porque não tenho a certeza de que o tipo existe mesmo: não será apenas um animal fossilizado?
O gajo diz que é português! Não sei porque chorou tanto com o fecho da livraria francesa em Lisboa: estaria a pensar mudar-se para o museu de história natural francófono?
Beijo Jorge, caga nisso, não percas o teu precioso tempo...
jorge: diz o povo, na sua humilde sabedoria que"falar vai dos queixos". pois é está tudo mal e agora? fazemos um hara-kiri geral?
ou linchámos o "pedante estrangeirado" do Prado Coelho?
um abraço
graziela
Já tinha tido a oportunidade de ler este texto e também achei que, de tudo o que tinha lido do EPC, foi aquilo de que mais gostei. E porquê? Porque se trata de um texto que ele escreve com o objectivo de atingir o maior número de pessoas, portanto, esforça-se obviamente por ser claro. Quando ele escreve como pedante atinge um grupo mais restrito de pessoas, o grupo de intelectuais-pedantes, felizmente mais restrito...
É precisamente por vir de um "pedante estrangeirado", que este texto ganha maior importância, ao encarar a realidade quotidiana que ninguém quer ver. Goste-se ou não do estilo, é a dura verdade.
E, esquecia-me de dizer que, relativamente ao conteúdo, também, estou de acordo e que me sinto obviamente co-responsável por este estado de coisas. De vez em quando, faço um balanço da minha vida e acho que não faço o que devia para ajudar a mudar este país. E será que poderia? E quando me interrogo se poderia fazê-lo é porque, para o fazer teria que abdicar de um sem número de coisas e de fazer sacrifícios. Logo chegam as perguntas... E a família? E o trabalho? E as férias? O carro novo? O melhor é trabalhar mais umas horas...
E a verdade é que, por estas razões ou outras, a maior parte das pessoas não está disponível para se sacrificar pelo colectivo. Se todos fôssemos mais activos e contribuíssemos com alguma coisa, já chegava. O problema é que todos sentem que a tarefa é gigantesca e quem quiser fazer efectivamente alguma coisa, sabe que está sozinho, e que vai ficar provavelmente mais sozinho e mais pobre ainda. E depois ninguém está interessado em contribuir para o bem comum, a não ser que possa tirar daí benefícios.
Amanhã é domingo. Há mais tempo para uma mais prolongada rotina higiénica… passem pelo espelho também!
É de facto um comentário notável. Mas não é o primeiro a diagnosticar este mal português: já no livro Portugal Hoje: O Medo de Existir de José Gil, o autor faz uma reflexão, um pouco pessimista, desta mentalidade portuguesa.
Eu não sou tão pessimista. Aliás, já ando a ficar um bocado farto das opiniões deste senhores, que acabam por se repetir não em palavras mas em ideias, e que não trazem mais assunto para discussão.
E que tal ideias de mudança?
Era essa a reflexão a fazer...
Um Abraço!
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